sábado, 29 de março de 2008

Morte

- Eu morri.
- Sei que morreu.
- Não me verás mais.
- Já não vejo-te há anos.
- Vais perder a esperança que tinhas de reencontrar-me.
- Já a perdi.
- Então por que ainda pensas em mim? Deixe-me ir.
- É que sinto - parei de falar mecanicamente e encarei o nada a minha frente - sinto algo estranho aqui - desgrudei a mão do lado do corpo para espalmar o lado direito do peito.
- Não quis matar-me porque fazia mal a ti?
Não havia dúvidas. Concordei com um aceno de cabeça e completei:
- Matei-te, mas ainda não esqueci de ti.

N.A.: Situação não real. Mas, de fato, isso aconteceu... some ao diálogo um sonho estranho e uma pessoa por quem você foi afim durante muito tempo.

terça-feira, 18 de março de 2008

Estranheza

Era uma pessoa normal.
Era uma pessoa estranha.

Falava rápido, tropeçava nas palavras, errava as concordâncias.
Falava devagar, como se saboreasse todas as sílabas.

Era extrovertida e curiosa. Perguntava tudo a todos.
Era introvertida. Só respondia por monossílabos.

Definitivamente, era uma pessoa normal.
De fato, era uma pessoa estranha.

Tinha um melhor amigo. Muito alto, magro e muito quieto. Nunca falava e nem mesmo respondia as perguntas delas.
Tinha o estranho hábito de falar com o poste. E resmungava que ele nunca a respondia.

Sorria para todos.
Sorria sozinha.

Gostava de cantar.
Gostava de ouvir música, de cabeça para baixo.

Achava o preto radiante.
Achava que poderia encobrir-se com maquiagem preta.

Grita e saúda a si própria.
Grita e repudia os vizinhos.

Ela não era estranha.
Ela não era normal.

Ai deles se lançarem seus olhares acusadores sobre ela.
Ai dela se lançar seu olhar rebelde sobre eles.

Sempre fazia e acontecia, em sua vida.
Simulava situações hipotéticas.

Ria dos outros.
Ria dos próprios diálogos.

Gostava da sua normalidade.
Gostava da sua "estranhisse".

Declamava poesias perfeitas.
Dizia coisas sem nexo.

Ela era estranha.
Dava piruetas pela rua toda vez que um carro buzinava.

Ela era normal.
Deixava que o público a guiasse. Seguia a multidão.

- Tem certeza que não é caso de internação, doutor?

- Sim. É somente mais caso de estranheza aguda. Talvez melhore com lógica e matemática. Já tentou ensiná-la piano?








NA.: Mais um para a lista das "idéias que vem do nada".Essa lista existe? A autora perdeu tempo de mais vendo Soletrando no Caldeirão do Huck? A autora precisa mesmo de uma tv com outros canais além de Globo? Você está realmente prestando atenção nisso?