domingo, 6 de abril de 2008

O viajante e o ônibus

Sua angústia começa quando senta-se na poltrona. E vai aumento a medida que o ônibus toma velocidade.
Inclina a cabeça para ver melhor as pessoas lhe dando tchau na rodoviária.
Ajeita-se da melhor maneira possível no assento. Mas não adianta. Não está confortável.
No peito, o coração parece cada vez mais nas costas.
Pensa na família e nos amigos que deixou para trás. Pensa na família e nos amigos que vai encontrar quando o ônibus parar.
Estava em companhia quando estava na rodoviária. Estará em companhia quando chegar a seu destino. Mas por enquanto, no ônibus, está sozinho.
As músicas agitadas que tocam no seu mp3 não surgem efeito. As músicas lentas o entristecem mais.
Pensa nas coisas que tem que fazer.
Pensar nas obrigações o empreguiçam. Não é hora de pensar nelas. Ainda está no ônibus.
Suspira e fecha os olhos.
Os ruídos dos outros automóveis passam pelos fones e chegam até seu ouvido. Ele aumenta mais o volume do mp3.
Vê centenas de árvores passando por ele na estrada. Pensa no porquê de nunca ter reparado no restinho de mata densa que havia perto da cidade vizinha.
Reconhece aquele posto de gasolina no trevo da estrada. Em poucos minutos chegará.
A viagem poderia durar mais. O ônibus poderia andar sem sair do lugar.
Como ele queria que a viagem demorasse. Como queria nunca ter chegado.
O som da fenagem indica que o ônibus parou.
O motorista pede que os passageiros com destino aquela cidade deixem o carro.
Então ele sai. Sai a contragosto. Sai obrigado... Até que pisa no chão da rodoviária.
Nunca lembra do que pensa no caminho da rodoviária até a casa.
Sente-se bem e sorridente.
Saiu do ônibus. Deixou aquele ônibus e tudo o que ele representa.
Agora o ônibus segue sua viagem e o viajante o seu caminho.
Não se veriam mais até o dia em que voltasse para sua cidade natal. Até lá para que o viajante pensaria no ônibus?

3 comentários:

Mya disse...

ônibus da viação progresso, su?
tenho altas histórias com eles...
texto lindo, como sempre. continue escrevendo essas coisas bonitas assim, sim?

Darlan disse...

Suleyna, um texto super sensível! Lindíssimo. É um olha paurado sobre as cousas, que poucos têm. Parabéns!

;*

Hitotsu Romeu disse...

Droga. Culpa sua.

Clique no meu nome e descubra porque.